Na última reunião para o trabalho de Socorro Espiritual que o TEUS mantém quinzenalmente, voltado para o resgate de espíritos caídos em situações emergenciais e já há algum tempo este trabalho estava focado ao socorro do grupo, entendendo que nós estávamos tão necessitados de ajuda consciencial para melhor resgate dos desafortunados irmãos espirituais. Enfim, nesta última oportunidade com a presença do irmão Camilo que conduziu uma vivência com o grupo, onde ele narrou uma projeção espiritual para depois cada um expor suas experiências.
Começando com o relaxamento, num dado momento ele propõem ao grupo para que saiam daquele ambiente e se veja numa estrada cercada por um deserto, Sol poente, areia morna e grossa...assim foi conduzindo a narrativa. O grupo encontrou centenas de espíritos nos chão nas piores situações, tiveram que escolher apenas um para continuar a caminhada, foram cercados por outros menos amistosos, subiram um morro, no alto do morro ganharam um presente de um iluminado que os esperava e por fim retornaram ao “corpo”.
Iniciado os relatos enquanto um percebia a textura da areia diferente do outro, uma irmã não conseguiu se ver no deserto e se via em meio a uma densa mata, mesmo o mentor narrando deserto, uns viram espíritos numa areia movediça, outros nem sofredores viram, uns viam o Sol, outros não, uns levaram apenas um escolhido para subir o morro e outro levou vários, uns usaram armamentos astrais para afastar as investidas negativas, outros mesmo as tendo não se sentiu capaz de usar, no presente uns ganharam luz, outros espada, adaga e outros não ganharam nada.
Com estes relatos é que então percebi o que a espiritualidade vem insistindo em mostrar nas variadas lições sobre a individualidade do ser.
A ambientação narrada era simultânea a todos, porém, cada um montava as imagens diferentemente do companheiro ao lado e para ninguém nada se repetiu cada um com uma experiência diferente.
É aí que entra meu ensaio.
Hoje em dia, cientistas, doutrinadores, pensadores de todas as vertentes humanas, tentam por todo esforço sistematizar o ser, normatizar a mente, criar uma espécie de manual do ser humano, e dentro deste manual reza o certo e o errado, o justo e o injusto, o bom e o mal...
Como exemplo, me utilizarei aqui da realidade religiosa, a Umbanda, e os comportamentos individuais de médium x entidade. Este vulto sistematizador que paira sobre todos nós, rompe com a necessidade mínima da conduta ditada dentro de um templo e agride a estrutura particular de seus membros. Querem a meu ver, criar robozinhos que andem, pulem e gritem iguais para então assim acreditar que somos todos iguais, julgando isso ser humildade, unidade ou mesmo coesão!
É óbvio que temos que nos ater a alguns parâmetros de bom senso comportamental para que não haja as extravasões desconexadas dentro de uma liturgia. No entanto, não esqueçamos do indivíduo.
Cremos, na Umbanda Sagrada, que o ser é gerado por Deus individualmente, ou seja, ninguém é igual a ninguém, semelhanças podem existir, porém, igualdade jamais. E o que isto quer dizer?
Diz tudo!
Somos todos diferentes, sabemos disso, e insistimos em dificultar a convivência com as diferenças. Porque temos invariavelmente um resquício quase que incurável do narcisismo, ou seja, só é belo o que é espelho, na prática, é o mesmo que afirmar que determinado indivíduo busca no outro algo que enxerga em si, para uma identificação, que chamamos de afinidade algumas vezes, esta postura inconsciente leva os homens á repudiarem o outro semelhante que não é tão semelhante, pela diferença, sente repúdio e acusa que o outro é deveras diferente e que não merece devido respeito ou mesmo convívio. Desta forma é que se cria os clãs sociais, religiosos, partidos políticos, grupos de amigos, etc.
Bem, isto é fato, e inerente ao ser humano, somente que precisamos acordar para a realidade e que ou combatemos o narciso dentro de nós ou então continuaremos patrocinando a deflagração dos homens que jamais conseguirão superar esta doença que mais o afasta de seus semelhantes enquanto raça humana e só o fecha para o labirinto de espelhos.
Nesta ocasião da vivência citado acima, um companheiro alegou que gostaria de ver na Umbanda todos iguais, todos desprovidos de “vaidades”¹, todos comportando-se igualmente...Temos uma utopia, que se virar ideal, criará mais uma faceta divisora entre os companheiros de fé. Reforço aqui a máxima de que ninguém é igual a ninguém, mesmo quando temos a uniformização de um grupo, teremos a diferença nos gestos, pensamentos, conceitos, etc. De longe todos parecem iguais, ao aproximar-se vemos a individualidade. Que bom! Sentiria-me mal num terreiro cibernético.
Sendo assim, precisamos abrir o coração, desarmar o espírito e aproveitar a oportunidade de conviver em grupos que reúnem no mesmo espaço, ideal e trabalho as diferenças, e nessa diversidade poder extrair o que cada um tem de melhor a oferecer na somatória das atividades em prol da meta a ser alcançada.
Alguns chegam ao ponto de ao observar a diferença no outro, desacreditar totalmente na veracidade da dignidade ou mesmo das manifestações transmitidas pela outra parte. E quando se pergunta qual seria a forma correta, então lá vem o discurso que claramente ou entrelinhas vão dizer “seja como eu”. São egos apontando egos, ou melhor, narcisos combatendo narcisos.
Tudo isso faz com que as pessoas vivam em constante desarranjo emocional, inquietos e mais preocupados com o externo do que com o seu interior e qual o seu real papel no meio que está inserido.
Porque cada qual percebe o mesmo ambiente diferentemente do outro? Porque o sentido de justiça difere de um para o outro?
Se perguntarmos para um grupo o que é felicidade? O que é amor? O que é o mal? O que é moral?
Teremos respostas totalmente diferentes umas das outras pelo simples fato de sermos diferentes e como não bastasse esta diferença na alma temos cada qual uma experiência de vida totalmente diferente do outro e quando eu respondo o que é amor, esta resposta estará ligada ás minhas experiências, minhas percepções e minhas somente minhas conclusões. Isto me faz melhor ou pior do que alguém?
Assim querido leitor, solte o brado da liberdade e expulse o narciso que vive dentro de você, veja na diferença a oportunidade de aprendizado, de novas experiências, se permita para que também tenha a permissão.
A socióloga Hannah Arendt disse certa vez que “a pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir” ela ainda completa que “a ação é a fonte do significado da vida humana. É a capacidade de começar algo novo que permita ao individuo revelar sua identidade”. Freud no seu artigo A transitoriedade, de 1961 menciona “que tudo quanto é belo e perfeito só existe na nossa percepção”, ou seja, somos únicos.
Aqui proponho esta consciência, para a vida harmônica, ame-se por reconhecer suas virtudes e potências, supere isso e perceba no semelhante diferente as virtudes e potências que ele traz e como você pode somar com ele para um bem maior.
Antes de apontar a forma como o preto velho do outro pita o cachimbo, ou como o caboclo do fulano veste seu cocar ou como o exu de beltrano gargalha, saia da forma e entenda que mais vale ser do que ter. Seja original e aprecie a originalidade.
Acima de tudo ame a diferença, ame o ser humano por ser humano como você, complicado e cheio de defeitos, por falar de amor ao próximo recorro ao filósofo Emmanuel Lévinas que diz “o amor sem concupiscência é incondicional, e coloca-se à disposição do outro sem esperar simetria ética!”, ou seja, é o mesmo que o preto velho diz: “fio, ame o próximo sem exigir nada dele!”
Para ir finalizando lembro que Renato Russo diz em verso que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Diz ainda que, se pararmos para pensar, na verdade não há.
É isso aí, assim caminha a humanidade e enquanto um vendedor de flores ensina seu filho a escolher seus amores, vamos amando e se libertando para a tão almejada consciência ampliada!
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¹ Vide texto PROSA COM EXU.
Começando com o relaxamento, num dado momento ele propõem ao grupo para que saiam daquele ambiente e se veja numa estrada cercada por um deserto, Sol poente, areia morna e grossa...assim foi conduzindo a narrativa. O grupo encontrou centenas de espíritos nos chão nas piores situações, tiveram que escolher apenas um para continuar a caminhada, foram cercados por outros menos amistosos, subiram um morro, no alto do morro ganharam um presente de um iluminado que os esperava e por fim retornaram ao “corpo”.
Iniciado os relatos enquanto um percebia a textura da areia diferente do outro, uma irmã não conseguiu se ver no deserto e se via em meio a uma densa mata, mesmo o mentor narrando deserto, uns viram espíritos numa areia movediça, outros nem sofredores viram, uns viam o Sol, outros não, uns levaram apenas um escolhido para subir o morro e outro levou vários, uns usaram armamentos astrais para afastar as investidas negativas, outros mesmo as tendo não se sentiu capaz de usar, no presente uns ganharam luz, outros espada, adaga e outros não ganharam nada.
Com estes relatos é que então percebi o que a espiritualidade vem insistindo em mostrar nas variadas lições sobre a individualidade do ser.
A ambientação narrada era simultânea a todos, porém, cada um montava as imagens diferentemente do companheiro ao lado e para ninguém nada se repetiu cada um com uma experiência diferente.
É aí que entra meu ensaio.
Hoje em dia, cientistas, doutrinadores, pensadores de todas as vertentes humanas, tentam por todo esforço sistematizar o ser, normatizar a mente, criar uma espécie de manual do ser humano, e dentro deste manual reza o certo e o errado, o justo e o injusto, o bom e o mal...
Como exemplo, me utilizarei aqui da realidade religiosa, a Umbanda, e os comportamentos individuais de médium x entidade. Este vulto sistematizador que paira sobre todos nós, rompe com a necessidade mínima da conduta ditada dentro de um templo e agride a estrutura particular de seus membros. Querem a meu ver, criar robozinhos que andem, pulem e gritem iguais para então assim acreditar que somos todos iguais, julgando isso ser humildade, unidade ou mesmo coesão!
É óbvio que temos que nos ater a alguns parâmetros de bom senso comportamental para que não haja as extravasões desconexadas dentro de uma liturgia. No entanto, não esqueçamos do indivíduo.
Cremos, na Umbanda Sagrada, que o ser é gerado por Deus individualmente, ou seja, ninguém é igual a ninguém, semelhanças podem existir, porém, igualdade jamais. E o que isto quer dizer?
Diz tudo!
Somos todos diferentes, sabemos disso, e insistimos em dificultar a convivência com as diferenças. Porque temos invariavelmente um resquício quase que incurável do narcisismo, ou seja, só é belo o que é espelho, na prática, é o mesmo que afirmar que determinado indivíduo busca no outro algo que enxerga em si, para uma identificação, que chamamos de afinidade algumas vezes, esta postura inconsciente leva os homens á repudiarem o outro semelhante que não é tão semelhante, pela diferença, sente repúdio e acusa que o outro é deveras diferente e que não merece devido respeito ou mesmo convívio. Desta forma é que se cria os clãs sociais, religiosos, partidos políticos, grupos de amigos, etc.
Bem, isto é fato, e inerente ao ser humano, somente que precisamos acordar para a realidade e que ou combatemos o narciso dentro de nós ou então continuaremos patrocinando a deflagração dos homens que jamais conseguirão superar esta doença que mais o afasta de seus semelhantes enquanto raça humana e só o fecha para o labirinto de espelhos.
Nesta ocasião da vivência citado acima, um companheiro alegou que gostaria de ver na Umbanda todos iguais, todos desprovidos de “vaidades”¹, todos comportando-se igualmente...Temos uma utopia, que se virar ideal, criará mais uma faceta divisora entre os companheiros de fé. Reforço aqui a máxima de que ninguém é igual a ninguém, mesmo quando temos a uniformização de um grupo, teremos a diferença nos gestos, pensamentos, conceitos, etc. De longe todos parecem iguais, ao aproximar-se vemos a individualidade. Que bom! Sentiria-me mal num terreiro cibernético.
Sendo assim, precisamos abrir o coração, desarmar o espírito e aproveitar a oportunidade de conviver em grupos que reúnem no mesmo espaço, ideal e trabalho as diferenças, e nessa diversidade poder extrair o que cada um tem de melhor a oferecer na somatória das atividades em prol da meta a ser alcançada.
Alguns chegam ao ponto de ao observar a diferença no outro, desacreditar totalmente na veracidade da dignidade ou mesmo das manifestações transmitidas pela outra parte. E quando se pergunta qual seria a forma correta, então lá vem o discurso que claramente ou entrelinhas vão dizer “seja como eu”. São egos apontando egos, ou melhor, narcisos combatendo narcisos.
Tudo isso faz com que as pessoas vivam em constante desarranjo emocional, inquietos e mais preocupados com o externo do que com o seu interior e qual o seu real papel no meio que está inserido.
Porque cada qual percebe o mesmo ambiente diferentemente do outro? Porque o sentido de justiça difere de um para o outro?
Se perguntarmos para um grupo o que é felicidade? O que é amor? O que é o mal? O que é moral?
Teremos respostas totalmente diferentes umas das outras pelo simples fato de sermos diferentes e como não bastasse esta diferença na alma temos cada qual uma experiência de vida totalmente diferente do outro e quando eu respondo o que é amor, esta resposta estará ligada ás minhas experiências, minhas percepções e minhas somente minhas conclusões. Isto me faz melhor ou pior do que alguém?
Assim querido leitor, solte o brado da liberdade e expulse o narciso que vive dentro de você, veja na diferença a oportunidade de aprendizado, de novas experiências, se permita para que também tenha a permissão.
A socióloga Hannah Arendt disse certa vez que “a pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir” ela ainda completa que “a ação é a fonte do significado da vida humana. É a capacidade de começar algo novo que permita ao individuo revelar sua identidade”. Freud no seu artigo A transitoriedade, de 1961 menciona “que tudo quanto é belo e perfeito só existe na nossa percepção”, ou seja, somos únicos.
Aqui proponho esta consciência, para a vida harmônica, ame-se por reconhecer suas virtudes e potências, supere isso e perceba no semelhante diferente as virtudes e potências que ele traz e como você pode somar com ele para um bem maior.
Antes de apontar a forma como o preto velho do outro pita o cachimbo, ou como o caboclo do fulano veste seu cocar ou como o exu de beltrano gargalha, saia da forma e entenda que mais vale ser do que ter. Seja original e aprecie a originalidade.
Acima de tudo ame a diferença, ame o ser humano por ser humano como você, complicado e cheio de defeitos, por falar de amor ao próximo recorro ao filósofo Emmanuel Lévinas que diz “o amor sem concupiscência é incondicional, e coloca-se à disposição do outro sem esperar simetria ética!”, ou seja, é o mesmo que o preto velho diz: “fio, ame o próximo sem exigir nada dele!”
Para ir finalizando lembro que Renato Russo diz em verso que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Diz ainda que, se pararmos para pensar, na verdade não há.
É isso aí, assim caminha a humanidade e enquanto um vendedor de flores ensina seu filho a escolher seus amores, vamos amando e se libertando para a tão almejada consciência ampliada!
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¹ Vide texto PROSA COM EXU.
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2 comentários:
Belo texto Rodrigo! coloco aqui alguns pitacos que confirmar as reflexões do ensaio teórico: determinada filosofia francesa, que vai desde Bergson, Gilles Deleuze, Felix Guatarri, Foucault e outros...trabalha numa perspectiva do Paradigma ético-estético-político. Este autores também fazem uma crítica muito aproximada das reflexões que você colocou, principalmente no que diz respeito à "formatação do sujeito pelas teorias" "padronização" "sitematização" previsibilidade do sujeito", etc...Excelente texto irmão
Pedro Rangel disse:
Ótimo texto companheiro, que pode, inclusive, nos esclarecer um pouco sobre a importância da fraternidade entre nós umbandistas ( e não só entre nós ) e uma das consequências mais importante desta que seria a realização de um trabalho mais sinérgico no nosso meio religioso ( e não só no nosso meio )para a prática da caridade.
Que papai Obaluaê possa sempre nos auxiliar na transmutação de nossos pensamentos em prol da fraternidade e que mãe Oxum possa agregar cada vez mais em nossos corações e mentes o sentimento de união que é fruto do Seu divino sentido da criação divina: o Amor.
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