Por Rodrigo Queiroz
“Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante,
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante,
E pousará no coração do Hemisfério Sul na América no claro instante...
E as coisas que eu sei que ele dirá
Não sei dizer assim de um modo explícito...” – Caetano Veloso -
Não sei se Caetano Veloso, ao escrever esta bela canção, falava do Sr. Caboclo das Sete Encruzilhada, porém, quando a ouvi pela primeira vez me remeteu a Ele, aos Caboclos de nossa amada Umbanda, e sempre que vou falar deles escuto no fundo de meus pensamentos esta canção.
Um Índio... Cem anos... A Fé... Quando nos debruçamos a conhecer a história da Umbanda, logo conhecemos Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Parecia que, segundo as narrações que nos chegam, esse espírito tinha algo a realizar, mas sem grandes ambições. O que parecia ser uma manifestação mediúnica diferenciada tornou-se o nascedouro de uma religião, da minha religião e talvez da sua.
Lembro-me quando o JUS publicou a primeira vez a história da Umbanda, com o título 92 anos de Umbanda, nossa! Eu ficava imaginando como seria comemorar 100 anos, o que teríamos nas páginas deste jornal? Teríamos este jornal? Quantas páginas então foram publicadas de lá pra cá... E como numa contagem regressiva, ano a ano, o mesmo título para falar dos 93, 94, 95, 96... anos da Umbanda.
Fico imaginando a luta de tantos pais e mães no Santo ao enfrentarem a intolerância, o preconceito a repressão. O que parece manchas em nossa história repercute na verdade em grandes ensinamentos. Desde o primeiro momento que me deparei com esta religião, ainda na cozinha da casa de meu pai, aprendi que Umbanda é exercer a tolerância na inspiração de um Preto Velho, é ter determinação conceitual como um Caboclo e, acima de tudo, libertar e ser livre como um Exu. Umbanda, a meu ver, exercita todos os valores que, quando em sua forma invertida, combate. Por isso Umbanda pra mim é mais que uma religião, é um ideal, é um norte moral, é a prática das virtudes e a renovação dos defeitos em qualidades ao refrear os instintos nocivos.
Umbanda minha Fé, meu motivo, meu sentido... Me emociono quando lembro de tantas alegrias que ela me proporcionou e sei que sempre me presenteará.
Hoje vemos uma grande religião expansiva, naturalmente com seus conflitos internos, típico de todo segmento composto por pessoas racionais que a seu modo tentam fazer e indicar o melhor para a religião. Umbanda me faz compreender a existência, amar o ser humano e me aproximar da Natureza. Desperta em mim uma sensibilidade que me faz melhor.
Ao divagar assim sobre a Umbanda tento imaginar se nosso grande mestre Zélio de Moraes imaginou que sua fé e entrega a um espírito de “índio” provocaria tanto benefício coletivo assim. E penso sobre o peso de nossas ações... Esta foi a ação de Zélio.
Este Centenário deve nos levar a uma reflexão, deve nos inclinar a entender nosso coração, nossa fé, nossa história. Pensemos nos próximos cem anos e qual o peso de nossas ações e nossa responsabilidade com as gerações vindouras.
“Vim fundar a Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos”, profetizou o Caboclo, pois não imagino como seria minha vida sem os valores que esta religião me traz.
Na canção citada tem outro trecho “Mais avançado do que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias...” assim que vejo o Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, um espírito muito à frente do nosso tempo e que será sempre mais avançado, e a nós cabe caminhar neste rastro de luz que ele deixa.
“E aquilo que neste momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sido estado oculto enquanto terá sido o óbvio.”
Assim, agradeço a Pai Olorum por permitir ao irmão Zélio de Moraes ser meio do nosso mestre Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas! Viva sua força, sua luz, seu amor!
Saravá Umbanda!
Salve nosso Centenário!
3 comentários:
Fiquei pensando muito, porque gostaria de deixar um comentário sobre esse texto que pudesse me emocionar tanto quanto ele me emocionou.
Texto simples, como uma pitada de poesia e romantismo.
Ai me lembrei de uma passagem de um Sr. Caboclo Pena Branca que em um momento disse: “Nós não temos palavras bonitas para falar o que sentimos, pois apenas sentimos o amor pela Umbanda e pelo semelhante. A Umbanda fala ao coração, como na batida do coração (neste momento ele começa a bater o pé no compasso do coração) e caboclo bate o pé no chão para que os filhos também sintam o coração bater e deixar o coração falar...” (Texto Umbanda cheira a rosas - Rodrigo Queiroz).
E mais uma vez uso aqui suas palavras amor, a Umbanda é minha Fé, meu motivo, meu sentido, meu Amor!
Obrigada Amor por ter carrego em seus braços muitos projetos em benefício da nossa amada Umbanda!
Obrigada Sr. Caboclo da 7 Encruzilhada por olhar por nós e nos permitir, pelo menos tentar!
Obrigada Zélio de Moraes!
Salve a Umbanda !!!!!!!
grande "sacada",eu sempre achei essa musica uma obra divina e,ficava imagindo o que Caetano queria dizer com isso.
Mais acho que vc me deu a resposta,"pelo fato de ter sido estado oculto quando terá sido o óbvio.
abraço fraterno
"Umbanda Menina dos Olhos
de Oxalá" Linda Música!!!
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