quarta-feira, 11 de novembro de 2009

POR DETRÁS DA MÁSCARA


Por Rodrigo Queiroz

Ditado pelo espírito Pai Zuluá de Aruanda


Naquela noite o paciente Preto Velho havia ultrapassado os 30 atendimentos e desde sua chegada na gira, seu semblante permanecia o mesmo, não sorria gratuitamente e tampouco carrancava a expressão, parecia que de certa forma ele estava indiferente naquela noite...

A hora já sinaliza fim da gira, então me encorajei e fui ao seu encontro, me aproximei, cruzei o solo, bati a cabeça em reverência, beijei sua mão. Normalmente faço isso mecanicamente, nesta ocasião algo me fez sentir o valor e importância de cada gesto, estranhamente me sentia emocionado e com um nó na garganta e foi então que o sábio Preto Velho falou:

“Sarve mi zi fio, sarve nosso Sinhô Jesuis Cristo, sarve os Orixás, valei-nos Zâmbi....”

“Salve meu Pai, salve a vossa luz e sabedoria! – saudei.”

“Sarve meu dedicado cambone, hoje vós zuncê ficou me mirando e curioso vem até o nêgo veio. Mas vós zuncê num carece de falá nada não, nêgo vai explica”

Daqui transcrevo seu ensinamento sem o sotaque característico. Então o Preto Velho, Pai José me ensinou:

“Filho, vocês sabem que nós nos deslocamos de uma espera bem distante em auxílio desse mundaréu de “necessitados”, fazemos isso por amor aos nossos, por essa humanidade da qual nós somos parte. Por amor ao Pai Zâmbi é que sempre estamos por aqui.

Hoje o filho percebeu a indiferença do nêgo, pois hoje este Preto Velho resolveu manifestar na face e nas palavras o reflexo que está escondido atrás da máscara de sofredor e humildes consulentes que são esta maioria que por aqui passaram nesta noite.

Se você se atentou mesmo, percebeu que com apenas uma consulente o nêgo proseou um pouco mais e ainda lhe entregou uma vela.

Pois então meu filho, dos 35 consulentes que este nêgo atendeu, apenas ela se colocou diante deste velho e não só foi sincera ao relatar o seu motivo de estar aqui como foi verdadeira em acreditar que de fato nós podemos colaborar em seu auxílio. No entanto os outros manifestam o retrato de um quadro infeliz que se apresentam nos terreiros de Umbanda por aí.

Estes descompromissados indivíduos vêm ao terreiro por uma espécie de desencargo de consciência e se colocam diante dos guias com uma “carinha” de coitado, contam sobre sua aflição e já esperando que nós produzamos um fenômeno espetacular e nesta expectativa vibram no seu íntimo: ‘-Não creio em você’.

Estes expectadores de fenômenos circenses ou coisa parecida são os mesmos que escutam as orientações dos guias e as esquecem assim que cruzam a porteira que separa o limite entre a corrente mediúnica e a consulência. Estes não são religiosos e tampouco preocupados consigo. Querem de alguma forma encontrar caminhos fáceis para atingir suas metas pessoais e esperam que nós os espíritos os auxiliemos nessa empreitada, porém não esqueça do que disse: apesar de esperarem isso, não acreditam de fato que façamos algo ou mesmo que aqui estamos.

Estes são os zumbis da sociedade, da existência, pois andam pra lá e pra cá sem consciência do que é ou do que quer.

Por isso meu filho que hoje viste este nêgo aparentemente indiferente, pois eu manifestei o que cada um trouxe em seu íntimo e foi exatamente isso que cada um recebeu.”

Emocionado e envergonhado ao mesmo tempo, senti na profundeza de minha alma o que este Preto Velho dizia e ainda arrisquei:

“Pai José, muito obrigado pelo ensinamento, vou refletir sobre tudo e compartilhar com os irmãos da casa. Se me for permitido, qual será então o desdobramento do caso da irmã que foi verdadeira?”

“Esta fio, quando chegar em casa terá seu problema resolvido. E você tenha uma boa noite.”

Saudei o sábio Preto Velho e de certa forma perturbado voltei para meu lugar, a curimba já entoava o ponto de subida.

Emocionado agradeci a Olorum por ser Umbandista!


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3 comentários:

Anônimo disse...

Salve!!!Como sempre me emociono com os textos de seu blog,percebo tamanho empenho em seus mentores em nos passar tão grandes ensinamentos e como este com tamanha simplicidade e consegue nos mostrar a realidade que acontece na maioria dos terreiros.Sabe Rodrigo não me coloco neste grupo de pessoas ,simplismente pq sinto a Umbanda com amor,respeito e a forma que encontrei em minha vida de melhorar como pessoa e espírito,tenho defeitos e erros como qualquer um de nós e por este motivo continuo agradecendo a voce por tamanha generosidade em dividir com todos nós ensinamentos como este!
Obrigado!
Que a luz de seu caminho reluza cada vez mais!

Marcondes Pereira disse...

A Umbanda comemora 101 anos e é mais nobre pois você é um trabalhador desta seara.
Obrigado Rodrigo

Marcio Ottoni disse...

Salve irmão, neste momento de conflitos diversos em que vivemos, muitos ainda são os que realmente acham que o simples fato de comparecer a um terreiro de Umbanda e se postar à frente dos Guias, desencandeará um movimento "mágico" que os libertará de suas mazelas, e os purificará para que continuem errando sem pensar em mudança. Cabe a nós veradeiros servifdores do Amor orientarmos estes irmãos no verdadeiro sentido de nossa Religião, que no seu nome já traz seu maior significado, Religar, ao nosso Pai maior. Que nos sirva de alerta em nossa caminhada de orientadores do Bem e do Amor ao próximo, e nos ensine a orientarmos no momneto exato desta comprovação aquele irmão que não aproveitou tão precioso momento, para que o faça em uma nova oportunidade. Forete abraço e Paz sempre.