quarta-feira, 1 de setembro de 2010

UM TAPINHA DÓI SIM!


Por Rodrigo Queiroz

Há pouco tempo a Lei que criminaliza o ato de bater, estapear e similares entre adulto e criança, ou melhor, entre pais e filhos, foi motivo de grande furor na mídia. Opiniões diversas são trazidas à tona e quase se instala um problema maior do que o motivo da Lei.
Aqueles que não aceitam tal Lei voltam-se contra o Estado, alegando que o mesmo não pode interferir na educação do lar. No entanto, não se trata disso. É baseado em inaceitáveis números estatísticos de crianças espancadas, torturadas e judiadas dentro de seus lares que o Estado se vê na necessidade e dever de agir.
Não dá pra mensurar o nível de "tapinha" permitido ou não. Mas dá sim para saber os grandes estragos que comportamentos de agressão por parte dos tutores contra seus filhos podem gerar na formação deste indivíduo.
Acho muito boa esta Lei, penso que veio tarde...
Tive contato com muitos jovens, pais e mães nas escolas que lecionei, minha disciplina é justamente a que visa à formação humana do indivíduo, em sala de aula encontramos o resultado do que ocorre nos lares.
Lembro quando em 2008 organizei um movimento contra violência infantil com o 7º ano do Ensino Fundamental II, eu explicava sobre os vários tipos de violência doméstica e, num determinado momento, um aluno que não era dos mais disciplinado desabafa: "Meu pai comete vários crimes comigo por dia". Esta cena me gelou, pois vi a impotência da criança, naturalmente, não podia fazer nada.
Pais e Mães reclamam a todo momento que não conseguem lidar com os filhos! Como assim?!?
Há quem pense que estes índices de violência doméstica estão nas classes sociais mais baixas, grande engano. O caso Isabela, jogada pela janela pelo pai, não se trata de classe baixa. O fato é que este descontrole emocional não está necessariamente ligado a nível social, trata-se de um processo de formação humana, valores e sentidos.
São pais e mães emocionalmente despreparados e imaturos para exercer a maternidade/paternidade, que não aprenderam que educação é um ato de amor, é a transferência de valores nobres e o norteamento para a superação constante dos desafios.
Quando um adulto (pais) agride uma criança (filhos) quer seja verbalmente ou fisicamente (o que é horrível), revela à criança toda sua incapacidade, fraqueza e impotência no educar, no orientar, no ajudar. A criança precisa de referências sólidas para sua formação, e quando isto ocorre é tendência natural que a criança responda com atitudes ainda mais "birrentas" ou "mal criadas" em relação ao adulto, numa tentativa inconsciente de encontrar em algum momento a solidez naquele adulto, que já deixou se perder. O problema é que se isso vai se repetindo, como rotina, ambos perdem o rumo, o adulto não acha mais nenhum recurso e tenta impor o medo como se este fosse sinônimo de respeito, e a criança cada vez mais fragilizada, agredida e reprimida vai explodir em algum momento, na adolescência ou já adulto; e ainda na infância já apresentará comportamentos constantes de desafios ao adulto.
Tenho dois filhos, um de 5 anos e uma de quase 1 ano, e até hoje não me vi em nenhuma situação ou com qualquer motivo para usar a força física na tentativa de impor uma ordem ou um limite.
Também não acredito que exista uma cartilha para se educar filhos. O que penso é que os pais precisam se conhecer, saber o que acontece no dia a dia dos filhos e, acima de tudo, conhecer os filhos, para que assim criem métodos de educação adequados àquela criança.
Certa vez, meu filho não estava num dia bom, ele tentou fazer algo que impedi, pedi que não fizesse, ele insistiu, ignorando várias vezes minha ordem, claro que eu já estava sem paciência, pensei que se eu continuasse naquele caminho íamos travar uma competição de força, onde, naturalmente, ganha o mais forte (engana-se). Bem, respirei fundo, me sentei à altura dele, o chamei para perto, já num tom de ternura, ele parou tudo o que fazia, veio correndo sorrindo, nos abraçamos forte, beijei ele, rocei a barba no pescoço dele (o que ele "odeia" rsrs), mordisquei a barriga dele, enfim, em alguns segundos mudei o foco do problema, me aproximei da realidade dele, depois com ele no colo olhei em seu olho e repeti: "Filho, isso que você quer fazer não pode agora, ok?" ao que respondeu com a mesma alegria e ternura: "tá bem papai!".
Entendi ali que ele não queria mesmo aquilo, mas num determinado momento usou a situação para me chamar a atenção ou coisa parecida, eu sem notar de pronto tentei abafar sua "farra", oras, mas ele queria se fazer percebido, se parasse com a tal "farra" o que ele poderia fazer?
São situações parecidas que levam pais à agressão aos filhos, para que sua ordem seja imposta a todo custo.
Neste dia não perdi minha autoridade, pelo contrário, reforcei pra mim e pra ele quem é que comanda a relação, com ternura e rigidez temperados, ele por sua vez é cada vez mais atencioso às ordens.
Enfim, bater dói muito, gritar e espernear dói também. É crime sim, mais que um crime social, é o fiasco na formação da criança, é a fragilização das referências e bases deste ser.
Reitero, o adulto quando bate ou agride verbalmente uma criança anuncia sua incapacidade e falta de inteligência para educar ou guiar o tutelado.

Pense nisso!

Rodrigo Queiroz - pai e educador

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2 comentários:

eu disse...

Oiii, ótimo texto.
Eu tenho uma pequena de 1 ano e 3 meses, uma idade que ainda não entende muito bem todas as ordens e as que entende desafia! rs
Confesso que já dei uns tapinhas, claro, nada que machucasse, uma forma de repreender mesmo.
Eu concordo com a lei, porque nós temos o controle da nossa força, mas se a lei não existisse abriria portas para os pais violentos fazerem suas atrocidades.
Pena que não exista tal lei para controlar as agressões verbais que por sua vez também traz danos e mais danos psicológicos para a criança...
Repenso agora os tapinhas que dei e digo que vou usar a sua tática!!

MERU SAMI disse...

Olá, Rodrigo,

Embora demorada, é muito apropriada sim.
Eu sou professora e deixei de lecionar, entre outras coisas, pelo fato de ver tanta aberração no seio das "famílias".
Fui mãe muito cedo e nunca perdi meu jeito adolescente de ser, mas nunca precisei usar força contra meus filhos ( que hoje são adultos e meus melhores amigos).
Sempre desci de minha posição para entrar na daquele com quem trato, seja ele quem for. Como médium de Umbanda, é assim que atuo, pois sempre questionei o fato de o outro, com poder em relação a mim, não se colocar em meu lugar e tentar entender o que se passa comigo. Então é o que ofereço ao outro. Não falha. A relação pode ser com os que precisam de minha orientação, ou com os que irão me orientar. Muitos esquecem que aqueles que orientam também tem dificuldades, e isso não os diminui em nada, é humano ter dificuldades.
Quem bate estrapola e perde a autoridade que já estava em xeque. seja em criança adolescente e mesmo em adultos, pois é enorme o número de mulheres que apanham no Brasil, onde consuetudináriamente o homem manda na casa, ele é o chefe!

Bem lembrado, por em pauta o assunto.

Um abraço.