sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

TRADIÇÃO OU OSTRACISMO?

“A Umbanda como religião libertadora, têm no seu estudo a garantia da Liberdade”

- Rodrigo Queiroz -

A Umbanda é uma religião muito nova, 101 anos, que traz em seu colo influências de muitas culturas e religiões, sendo predominante a cultura religiosa africana, fruto do nosso culto aos Orixás –Yorubá, divindades cultuadas na Nigéria.

Claro que a forma como a Umbanda se relaciona com os Orixás é bastante diferente que o Culto de Nação.

Cito isso pois um termo típico da cultura africana é usada dentro da Umbanda, trata-se do que se chama de Tradição, afinal o que é tradição?

Para não me alongar quero adiantar que o conceito de Tradição no africanismo também é diferente do que ocorre na Umbanda e como sou Umbandista só posso neste momento falar de Umbanda.

A Umbanda neste primeiro século evoluiu muito e vai evoluir, cresceu e vem tomando forma, ainda não dá para prever sua forma, pois ela ainda está no processo de firmamento e construção de uma identidade.

Desde Pai Zélio de Moraes, sempre existiram reuniões no terreiro para estudos acerca da Umbanda e da espiritualidade. O tempo foi passando e há mais de 30 anos, Pai Ronaldo Linares, baluarte da religião que conviveu com Pai Zélio de Moraes, criou o curso Sacerdócio Umbandista, vale citar que anteriormente Pai Jamil Rachid já ministrava um curso com esta temática, ao que consta Pai Jamil foi o pioneiro neste conceito. O motivo é que os candidatos à Sacerdote de Umbanda, que tenham sido outorgados pelos guias espirituais, pudessem receber uma estrutura teórica e conceitual do que se trata o Sacerdócio.

Centenas de terreiros de Umbanda surgiram a partir destes líderes conscientes e conscientizadores.

Toda religião, independente de seus templos, criam núcleos de estudos sobre sua Teologia (estudo de Deus na religião), sua Teogonia (estudo do panteão Divino da religião) e até mesmo a Teosofia (estudo da Sabedoria Divina), bem como assuntos correlacionados e estranhamente nas outras religiões isso não é um problema, muito pelo contrário, isso nada mais é que a constatação de uma organização e estruturação da religião, pois sabem seus idealizadores que um fiel consciente é um fiel convicto, que um fiel consciente é um fiel fortalecido, que um fiel consciente é um fiel producente.

No entanto, nos últimos tempos falar de estudos dentro da Umbanda é um problema, não para os fiéis preocupados com a evolução, mas sim para os tiranos dirigentes que evocam a tal Tradição, como se tradição fosse o enclausuramento do fiel ao terreiro. Pois pensam e transmitem a idéia de que Umbanda em toda sua simplicidade e complexidade se resume ao terreiro ou às suas experiências pessoais. Presos no orgulho não reconhecem a importância de estudar os vários assuntos que envolvem a religião Umbanda, pois também não a estudam e temem serem questionados. Querem na verdade fechar “seus filhos” numa ostra e ser reconhecido como o único detentor do saber.

Tradição espiritual pelo que aprendi no terreiro, conversando com Preto Velho, Caboclo, enfim, é evolução constante, ampliação dos horizontes da consciência e do coração, de modo que apenas a realidade do terreiro é uma forma.

Particularidades do terreiro e da espiritualidade, somente o convívio oferece, o dia a dia no terreiro, as prosas com os guias, o convívio com o pai ou mãe do terreiro, com os irmãos, com o toque do tambor, com a fumaça do turíbulo, ah...estas coisas não tem estudo que transmita, claro que não! Mas explicam.

Por isso não podemos confundir Tradição com Ostracismo.

Precisamos repudiar estes discursos que promovem a alienação dos religiosos Umbandistas, que centraliza os incautos entorno do pseudo-mártir.

Umbanda precisa de estudos e escolas organizadas da mesma maneira que precisa se politizar, pois tudo isso corrobora para o seu crescimento, alicerçamento e reconhecimento.

Eu militarei pela educação Umbandista, pois acredito que este é o caminho da evolução.

Eu sinto a Umbanda, eu vibro a Umbanda, eu amo a Umbanda, desde o primeiro contato com ela, mas tenho que confessar, ela fica mais encantadora, colorida e brilhante a cada novo conhecimento que tomo sobre ela, pois vou percebendo o amor de Olorum, que criou um religião onde Ele pudesse se manifestar sem véus, ainda que tentem cobri-lo com uma Burca (traje feminino que esconde toda a mulher, como dita a Tradição Islã).

Obrigado aos grandes baluartes da Umbanda que por serem estudados sempre contribuíram para uma Umbanda estudada.

Por isso digo que a Umbanda não é a religião ideal, mas o ideal de religião!

Saravá!

Rodrigo Queiroz


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5 comentários:

Paulo Mauad disse...

Oi, Rodrigo. Muito bom artigo. Só venho aqui mostrar um pouco de condescendência com aqueles que rechaçam a educação Umbandista, não por concordar com eles, mas por já ter sido assim... Já olhei torto para a educação na Umbanda pelo simples fato de que muitos usam a educação como forma de "doutrinação" e não ensinamento, se é que me entende. Muitos "educadores" umbandistas enchem o seu discurso de dogmas e preconceitos e acabam formando mentes distorcidas. Infelizmente nem todos têm a nossa sede de conhecimento e possuem um bom filtro para conseguir absorver somente aquilo que nos faz bem, deixando de lado aquilo que só é bom para o outro. Grande abraço.

Thaís Helena disse...

Amor, é por você pensar e agir assim, que hoje sou Umbandista!!! Foi apartir de seus cursos que eu pude perceber que ser umbandista vai muito além de estar no terreiro, ser Unbandista é sim conciliar razão e emoção, porque uma completa a outra.
Que nossos Papais a Mamaes Orixas, guias e mentores, continuem a nos proporcionar uma religião livre e sem dogmas, "umbanda tem fundamento...".
Uma vez meu pai me disse..."Filha o homem pode tirar tudo de você, dinheiro, sentimentos, porem não o estudo. Então estude".
Hoje quando sou atacada por preconceitos, a minha arma é o conhecimento, e ela me fortalece cada dia mais. Muito obrigada!
Um grande beijo, te amo!

carlina disse...

Concordo Rodrigo. Como sempre seus textos vem nos aclarar e fortalecer ainda mais nossas convicções.

Abraço,

Divina Umbanda disse...

Olá Rodrigo,

Desde o primeiro momento em que meu coração foi tocado pela Umbanda e resolvi viver a religião procurei o estudo e tive sorte de o primeiro livro a ter contato ser o Arquetipos de Umbanda, de Rubens Saraceni, então a partir disso comecei a estudar toda obra trazida por Pai Benedito, Mestre Seimam, Pai Beira Mar, etc... e ate hoje em cada linha que leio e estudo vejo o quanto é completa nossa religião, hoje temos respostas para perguntas basicas sejam teologicas, teogonicas ou ate mesmo cosmogonicas e isso se deu graças a alguem de dentro da Umbanda se preocupar com a fundamentação de nossas praticas, é o que vc disse pratica não se aprende em livros, mas são explicadas neles...

Parabens pelo artigo!!!

Unknown disse...

Olá Rodrigo, concordo com você, nossa religião precisa sim ser divulgada em estudo, quanto mais queremos saber mais se abre para nós os ensinamentos, foi através do JUS que iniciei meu estudo sobre Umbanda, fui a primeira do templo que frenquentava a procurar os estudos, pois vivi na Umbanda e não a conhecia, comecei com Doutrina e cultura umbandista com Mãe Mônica Beretuzi, aí conheci a obra do Mestre Rubens, conheci a Magia Divina e hoje quanto mais estudo mais quero aprender. Saravá a Umbanda, salve o estudo.